segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Lembranças que a vida não desfaz

Lembranças que a vida não desfaz
Ana Maria Guimaraes Ferreira


Tenho dito tanta coisa do presente, do futuro, das imperfeições, dos deslizes, das alegrias e das tristezas e verifiquei que só não falei das Lembranças que a vida não desfaz.
Tudo se acaba inclusive a vida, mas as coisas que temos nas lembranças ficam como fotos amareladas, que marcam um tempo, uma época, uma vida.
Lembro-me de mim menina tímida, medrosa, meiga e carinhosa.
Lembro-me dos irmãos, as brigas e as pazes... Dos doces de São Cosme e São Damião.. Ah! Rio de Janeiro cheia de encantos mil e de tanta coisa bela e só dela que a imprensa renega e só noticia as maldades...
Minha mãe, amiga e protetora. Corajosa e ao mesmo tempo medrosa. Uma leoa e ao mesmo tempo uma ovelha. Dócil, serena, sempre de bem com a vida. Talvez por isso Deus não lhe deu agora aos 87 as rugas dos cinqüenta.
Acho que esse é o rosto quem riu muito, de quem viveu a vida sem amarguras, por isso com poucas rugas. Ou será o Leite de Colônia que ela usa regularmente a noite desde os 18 anos?
Será que é o sorriso que ela mantém ao longo desses oitenta e sete anos e que nunca se desfaz de seu rosto? O sorriso que nos transmitia segurança, tranqüilidade, serenidade, alegria de viver. Que fez de nos gatos e sapatos, crianças e palhaços no picadeiro da vida. Que nos fez ver o lado bom de tudo. O acreditar. O crer. O confiar. O amar?
Lembro de meu pai. Jornalista, estudioso, leitor assíduo de tudo que passava em suas mãos... Jornais, revistas, livros, poesias.
Lembro das broncas, das correções do português que hoje agradeço, pois vejo tantos jovens ser formarem e escreverem com tantos erros...
Lembro da feira aos domingos, da Escola Publica 2-14 Bolivar... do exame de admissão, das aulas de canto orfeônico, onde o Hino Nacional era cantado sempre... e nos dava o sentimento de amor a Pátria... Hoje para achar alguém que saiba a letra só pagando.... O que antes era diversão hoje é escravidão.
Pai batia em menino que mentia. Pai batia em menino malcriado que não respeitava o professor, o diretor. Hoje meninos matam diretores, professores são espancados e professor é uma classe envergonhada e pai que bate é visto como torturador e o conselho tutelar vai em cima e babau... Ninguém respeita mais nada. Criança não respeita os velhos – debocham deles. Adultos não se levantam para a mulher grávida.
Tudo mudou, mas para pior. O Ensino não ensina mais nada. Todo mundo passa ate o que não sabe nada e formamos assim médicos, psicólogos, advogados, engenheiros, professores muitos ... incompetentes...
Saudades do meu pai que brigava que devolvia a prova para a professora com erros de português assinalados e com o pedido de nota abaixada... sofria, chorava, mas hoje me sinto de alma lavada de ter tido um pai que se preocupava com a língua pátria, com os filhos da pátria e com os filhos que gerou. Saudades pai saudades...
Agora de tudo restou o estudo que ele me deu, as fotos que tirei, os filhos que formei e os valores morais que nunca perderei.
Essas são lembranças que o tempo não desfaz

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