segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

ANJOS DA HEMODIÁLISE

ANJOS DA HEMODIÁLISE

Essa é a minha homenagem as esposas dos meus pacientes com os quais convivi durante dois anos e que aprendi a amar, respeitar e admirar. Poucos conseguem ver suas asas mas me sinto uma privilegiada pois consegui enxergar através dos seus gestos de amor, as asas dos anjos. A elas a minha homenagem simples porém extremamente sincera, do fundo do meu coração
Ana Maria Guimarães Ferreira



Silenciosos, quietos, tristes com asas partidas.........
Anjos que não voam mais..... que só cuidam e guardam.....
Anjos protetores que perderam seu rumo, seu prumo.
A sala de espera se abre para mais um dia numa Clínica de Hemodiálise.

Aos poucos eles vão surgindo... alguns vem andando sozinhos, trazem no rosto a dor da perda , trazem na alma a tristeza do vazio, do absolutamente.
Trazem nos braços caroços, calombos de veias perfuradas, de invasões bárbaras de agulhas que maltratam que machucam que ferem e que salvam.
Outros vem amparados, braços dados com os anjos que largam tudo, sua vida para abraçar a vida deles como se fosse a sua.
Já não sentem mais o doce sabor da comida temperada,já deram adeus ao churrasco feito com sal grosso, e agora apreciam a comida insosa sòmente para serem parceiras “na alegria e na dor, na saúde e na doença....”
Outros vem empurrados em cadeiras de rodas .........que rolam suavemente comandados pelas mãos dos anjos de asas partidas.

Eles vão e vem durante o horário da hemodiálise.
Poucos conseguem ver suas asas... que se escondem debaixo das blusas e das costas doídas, das dores sentidas,da saudade perdida, do amor escondido, sofrido.
São cobrados pelos médicos da não observância das regras, do não cuidar adequadamente do paciente.
Os anjos ouvem e não questionam.
Ouvem e não reclamam. Guardam silenciosos as dores da alma, e os remédios que não tomam... dão.
A água que reduzem para seus protegidos e que acabam bebendo menos.
A dieta que fazem sem querer... só para acompanhar, serem solidários na alegria e na doença”
Anjos que não voam mas vivem aereamente o seu dia a dia tumultuado pelas tarefas diárias que não deixam de ser feitas, pelas crianças que devem ser levadas e buscadas diariamente na escola....
Pelas roupas que devem ser lavadas, passadas, pelas compras do mercado, pelas dores escondidas, pelos almoços diferenciados e que mesmo assim,não podem
esquecer nem por um minuto da sua profissão – até porque foram “eleitos” como protetores, cúmplices, cuidadores e ter certeza que ninguém vai cuidar deles.

Porque as asas se partiram?

Porque as asas não aparecem?
Porque não voam mais alto mais e mais e abandonam tudo e vivem a sua vida que já não é fácil?

Porque são esposas, mães e amantes.

Porque são doces, meigas e carentes

Porque são os anjos que Deus colocou em cada lar de um paciente em hemodiálise.

São anjos que não gritam mas ouvem gritos..... são anjos que caminham horas a fio atrás de uma consulta, de um remédio para aliviar a dor.

Que correm desesperados em busca de uma esperança.
Que doam a alma, o coração e os rins para um transplante.

São anjos que não são percebidos pelos simples mortais que acompanham como os anjos que são e assim muitas vezes não são respeitados,e amados e admirados como tal.

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