terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Fronteiras do meu ser

Nos limites de minha vida
Nas fronteiras da minha alma
Nos domínios do meu corpo
Elas estavam ali
Onde antes não estavam

Percebi linhas que demarcavam
Minha vida - rugas
Estavam estabelecendo uma fronteira do que fui
Com o que sou
Terras desconhecidas
Ate mesmo por mim
Busquei no mapa dos anos
O marco inicial desta certeza
E perplexa, cabisbaixa,
Entorpecida
Descobri que não sabia precisar
Quando as rugas que marcavam minha face
Começaram a surgir
Começaram a me marcar
Mas que cada uma delas
Tinha uma razão de existir
Rugas de velhice
Rugas de emoção
Rugas de preocupação
Rugas da ingratidão
Da solidao
Rugas de saudade
Da idade
Da mocidade que foi
Rugas da perplexidade
Da fronteira do ser e do não ser
Do estar e já ter ido
Do sonhar sem ter dormido
De um amor esquecido
De uma dor tão sentida
Da alegria perdida
Da idade escondida

Fronteiras que delimitam
Tudo que já vivi
Fronteiras de amor e gloria
Do que eu sobrevivi

Ana Maria

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

PAIS ETERNOS APAIXONADOS

Paciência era tudo o que eu tinha para com meus filhos pequenos. Quando a noite chegava e a minha filha pequena não queria dormir, quando meu filho com asma passava as noites sufocado, eu tirava do fundo da alma a paciência que era necessária para eles se sentirem protegidos e amados.
Paciência com as coisas que menino faz e que outras pessoas ficam irritadas e resolvem criticar o nosso papel de mãe, de pai. Não me irritava, não os culpava....simplesmente amava-os.
Paciência para as vezes em que eles chegavam na hora do almoço com vários coleguinhas ,de repente, para almoçar sem avisar.
Paciência para quando mais jovens, nas Repúblicas estudando, traziam vários amigos da Universidade onde estudavam em outro Estado,para dormir e ficar em meu apartamento de dois quartos, espalhados pela sala, na rede, no chão do meu quarto...
Sempre encontrei a paciência que não deixei perder-se na bagunça que ficava na casa depois que eles iam embora...
Respeito era tudo o que eu tinha para com meus filhos pequenos
Respeitava seus gostos e desgostos, suas alegrias exageradas e suas tristezas escondidas. Tinha para eles sempre o perdão e não a crítica. Bajulava-os sempre.
Amor quando eu após um mês de trabalho trazia para casa um playmobill do meu salário suado do qual como mágica, sempre conseguia tirar uma pequena parte para fazê-los sorrir. Para um playmobill, e para a , boneca , ou pequenas, panelinhas... qualquer coisa que fizesse surgir aquele brilho no olhar. deles.
Amor nas noites de Natal onde nunca faltou um presente, por mias singelo que fosse ou um aniversário nunca esquecido. Por mais dura que eu estivesse sempre arrumava uma forma de fazer um bolo, comprar a esperada coca cola e cantar parabéns...
Certeza i do amor de meus filhos por mim e do meu por eles. Certeza de que tudo o que fiz foi procurando fazer deles mais que filhos, meus melhores amigos.
Os filhos crescem e deixam de serem filhos para serem pais e mães, esposos e esposas e uma nova família que acaba sendo mais importante do que a anterior- é natural, é a lei da vida.
Tem as mesmas preocupações que tínhamos e interesses diferentes. Já não trazem no olhar o brilho de ganhar bonecas e playmobill...Tem suas próprias bonecas e seus carrinhos são de verdade.
Não sentem mais interesse em passeios no parque, em andar em pangarés na pracinha, em acampar, em procurar ovos de páscoa escondidos ou papai Noel no céu.
Já não reclamam da asma ou do joelho ferido na queda da bicicleta. Agora se preocupam com joelhos machucados e asma dos seus filhotes....
Nunca reclamar dos filhos, entender o que se passava na cabeça adolescente. Tentar ser mãe e pai e às vezes avó e amiga perdida. Era tudo o que qualquer mãe fazia.
Hoje se os pais se sentem esquecidos, sem obter dos filhos uma parcela daquele imenso tempo que eles lhe dedicavam. Se questionam são vistos como egoístas, ciumentos, estressados...
Impaciência com os mais velhos é o que os filhos tem. Paciência reduzida com os pais, mas eles só vão descobrir isso depois, muito depois quando forem avós e avôs...
Quando os pais adoecem de solidão, comum nos dias de hoje, eles escrevem e-mails, falam pelo skype, mandam pelo celular fotos... tudo parece mais fácil, mais pratico, mais rápido. Falta apenas um detalhe pequeno, sem muita importância hoje, mas que antigamente era tudo de bom... os telefonemas no meio da noite para acalmar o choro de um cabelo cortado errado pelo cabeleireiro, ou o namoro terminado.....falta a voz do apego e do aconchego...as palavras que mais pareciam abraços perdidos na linha interrompida pelos soluços..
Falta tirar do suado salário de casado, o dinheiro do afeto que dê para fazer surgir nos olhos dos pais o brilho igual aquele que surgia neles quando recebiam um playmobill ou uma boneca.
Falta fazer surgir tempo para ouvir as reclamações do dia a dia com a faxineira e o pedreiro... tempo pequenino menor que o tempo de ensinar a andar de bicicleta sem rodinhas...
Os pais envelhecem, não só amadurecem, mas envelhecem... sua paciência se restringe a eles mesmos e aos netos que sem estresse, sem disputas empresariais, sem chefes irritantes,.
São apenas netos que querem afeto, abraço e amor. Querem perdão e carinho quando fazem algo errado, querem alguém que os ensine os primeiros passos, as primeiras cores, e a conhecer o primeiro arco-íris..
Pais querem poder curtir os netos, te-los por perto,, senti-los, amá-los, tocá-los e abraça-los.
Sentir que são necessários a alguém, úteis ....
Mas pais se apaixonam pelos filhos e nunca deixam de amá-los e assim as vezes uma perguntinha rápida no telefone:-
-como você está
- feliz aniversário
- adoraria que você pudesse almoçar comigo
Ou então atender a um pedido escondido,envergonhado, desesperado:
- Fica comigo uma tarde, uma noite, um amanhecer
Fazem a diferença entre ter ou não ter mais paciência!.......

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Um texto para começar o ano de pe direito

Recebi este texto hoje e não pude deixar de publicá-lo porque ele é maravilhoso é um hino a todas as mulheres .... é lindissimo.



'Texto da Revista do Jornal O Globo)

'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros..
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora.
Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.
Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias..
Cinco dias!
Tempo para uma massagem..
Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um tr abalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.
Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.
E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'


Martha Medeiros - Jornalista e escritora