terça-feira, 23 de junho de 2009

CARTA A MEU PAI





Muitas vezes deixamos de falar as coisas que temos no coração por falta de coragem, de tempo, de imaginação.
O tempo, esse gigante inflexível, aparece e desaparece e leva tudo o que deixamos de dizer.
Assim foi conosco. Tinha muita coisa para te falar e quando me dei conta você com sua pressa costumeira se foi e me deixou com as palavras engasgadas na garganta.
Eu queria te agradecer por ter tido você ao meu lado durante tantos anos. Pelas suas orientações que muitas vezes, eu criança ou eu adolescente ou eu mesma um pouco fruta meio verde e tentando amadurecer não conseguia entender e achava que eram broncas. Mas eram conselhos que a vida me fez entender muito depois.
Como por exemplo, sobre os amigos. A importância deles na nossa vida. Eu via seu comportamento com seus amigos e admirava a maneira como você fazia por eles sem que eles se sentissem humilhados. Você ajudava, apoiava e às vezes ninguém sabia só você.
Mas quando você se foi a igreja era pequena para caber tantos corações enlutados. Todos se lembravam de seus gestos humanos e caridosos. Do amigo restava a eles a saudade doída como a do filho que perde o pai. E ali estavam eles órfãos do amigo.
Depois sobre os valores morais: hoje em decadência
Lembro das lições de família, da importância do respeito aos mais velhos, do saber ouvir mais do que falar. Da honestidade – ah se os políticos de hoje tivessem tido a oportunidade de ter você como pai – como seria diferente esse País!
Queria te agradecer pelos meus filhos que você ajudou a criar. Pelo apoio moral. Emocional e financeiro que vinha quando eu menos esperava e mais precisava e que como tudo o que você fazia, vinha silenciosamente, sem alarde.
Queria te dizer o quanto te amei e o quanto a sua ausência nos faz falta.
Estaremos juntos numa daquelas comemorações que você fazia questão de não deixar morrer. Lembro que aniversários, casamentos, batizados, formaturas, natal e ano novo você nunca deixou de estar presente e nos fazia entender a importância desses encontros.
Hoje os Natais não são mais os mesmos. Os aniversários se tornaram fatos isolados,. Casamentos quando acontecem não tem a presença de todos e os enterros esses coitados quase ninguém vai com a desculpa de que o morto nem vai sentir a falta
“Ah se pudesses ver como me fazes falta!”
E as alegrias das comemorações importantes: quando nascia um neto lá estava você. Não importava onde ele nascia – Uberaba –Ribeirão Preto – Brasília...
Nascia e lá estava esperando por ele o vovô Newton – figura ímpar – Pena que agora os bisnetos não possam ter a oportunidade de chegar e tê-lo por lá esperando nervoso, com o cigarrinho na mão e a alegria no coração.
Por isso pai, por tudo isso e por tudo que deixo de mencionar aqui o meu muito obrigado e o meu perdão por não ter podido te dizer tudo isso quando você estava tão perto.
Mas com certeza, você continua perto, visitando, orientando, estimulando e ajudando a todos nós.
A ti a minha saudade doída.

Um comentário:

  1. Lindo post. Emocionante. Tão emocionante que nos faz chorar. Aliás, você tem esse poder.
    Beijos,
    Adir

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