quinta-feira, 16 de abril de 2009

FOTO AMARELADA









Ana Maria Guimaraes Ferreira




Mexendo nas gavetas para jogar fora as coisas que não mais eram úteis,ela caiu aos seus pés: uma velha foto amarelada, sépia.
Olhou de relance e ia deixar ficar ao chão, mas algo a fez retroceder, abaixar-se e pegar a velha foto e olhar novamente, com calma, devagar.
Lembranças são para serem saboreadas vagarosamente. Olhou e o que viu trouxe um sorriso espontâneo em sua face franzida.
Era ela mesmo aquela menina magricela, de pernas longas, quase sem busto, vestida num maiô de corpo inteiro, com um cabelo a la Joãozinho( moda da época) com aquele chapéu engraçado e aquela cara de mistério?
E para quem ia aquele sorriso misto de amor e de carinho? Olhou para o outro canto da foto e ali estava ele: a razão do sorriso. Seus olhos viajaram na fotografia e ela viu aquele rapaz franzino, de cabelos claros e gandes olhos fixos e notou que ele tambem sorria de outro ponto da foto.
Voltou ao tempo da foto e sem querer, viu-se em Paquetá. Sim era ali que a foto havia sido tirada. Ilha de Paquetá - Rio de Janeiro.....
Praia mansa, sem ondas, sol não tão escaldante como agora (seria por causa das árvores ou por causa da camada de ozônio de hoje?)
Conseguia captar no olhar dos dois o amor adolescente. Um jieto maravilhoso de falar pelo olhar, de expressar ternura sem tocar, de querer sem se dar.
Ouvia os risos, sentia as ondas pequeninas roçando-lhe os pés. Águar morna, areia clara....
Sorriu ao ver o maiô "engana mamãe" : na frente corpo inteiro, de costas duas peças.
Nada de biquinis provocantes ou insinuantes com bundas à mostra.
Não: tudo era para que a imaginação funcionasse : acho que por isso éramos mais criativos no amor. Um simples pegar uma mão na outra trazia a sensação de extase. Um beijo roubado nossa era a glória!
Não tinhamos o "ficar" o "ficante" tinhamos o namorar, o amante, o apaixonado, o enamorado.
Curtíamos piquenique em Paquetá, na Praia da Urca, na Praia Vermelha, na Quinta da Boa Vista.
Adorávamos a sessão da tarde no Cinema Carioca onde tinhamos nossas pequenas paqueras que muitas vezes nos seguiam de ônibus ate a parada de nossas casas.
Nada de shoppings, nossos passeios eram ir a Praça Saens Pena .
Tinhamos os bilhetes trocados nas salas de aula escondido dos professores, dos inspetores.
Era perigoso ter namoradinho na sala e trocar bilhetes. Sempre tinha o inspetor que fiscalizava. Era perigoso e ao mesmo tempo excitante.
Se o inspetor pegasse eramos levados à diretoria e nosso pais eram convocados via a caderneta escolar.....
E as cartas de amor? era maravilhoso escrever para namorados distantes. Existia ate o casamento por procuração e os namoros via fotonovelas. Jovens da AMAN e da EPCar se correspondiam com as moças e as vezes um amor nascia pelas letras das cartas.
Assim cada vez que o moço do correio chegava era um Deus nos acuda. Todos queriam saber se a carta esperada tinha chegado. Sempre era uma emoção ou do amor correspondido ou do caso terminado.
Tinhamos os bailes de formatura onde orquestras tocavam musicas lentas e noos obrigavam a sentir o parceiro tocando em nossas cinturas, seu cheiro, as vezes um beijo roubado, escondido camuflado nas barbas que começavam a nascer.
Era pura emoçao os preparativos para o baile,os cabelos, a roupa, os vestidos rodados a rodopiar pelo salão e assim chamar a atenção para aqueles que sabiam dançar bem o bolero.
Para quem tinha graça nos pés, ritmo no corpo e frescor nos rostos.
Tinhamos olhares trocados, sorrisos disfarçados, e um amor tão puro como as letras das músicas que embalavam nossos sonhos.

Tudo isso foi revivido em instantes, por causa de uma fotografia amarelada, que por pouco, muito poouco não ia para o lixo.

2 comentários:

  1. Ana,
    sen sa cio nal!
    Revivi minha época através do seu relato. Que maravilha!
    Lindo de mais!
    Só sente quem viveu e entende cada linha.
    Beijos
    Adir

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  2. Ana Maria:
    Valeu ter deixado este texto no Duelos! Muito bom!
    Abração e ótima semana!

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